Hilda Hilst

Hilda de Almeida Prado Hilst, mais conhecida como Hilda Hilst, (Jaú, 21 de abril de 1930 — Campinas, 4 de fevereiro de 2004) foi uma poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira. É considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX. Seu trabalho aborda temas como misticismo, insanidade, erotismo e libertação sexual feminina. Hilst foi fortemente influenciada por James Joyce e Samuel Beckett, e essa influência aparece em temas e técnicas recorrentes em seus trabalhos como o fluxo de consciência e realidade fraturada.

Hilda Hilst na década de 1970 na Casa do Sol, Campinas, São Paulo.
Hilda Hilst na década de 1970 na Casa do Sol, Campinas, São Paulo.
  • Nome completo: Hilda de Almeida Prado Hilst
  • Nascimento: 21 de abril de 1930
    Jaú, São Paulo
  • Morte: 4 de fevereiro de 2004 (73 anos)
    Campinas, São Paulo
  • Residência: Casa do Sol, Campinas
  • Nacionalidade: brasileira
  • Ocupação: Escritora
  • Prémios
    Prémio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1977)
    Prémio Jabuti (1984)
    Magnum opus: Cantares de perda e predileção (poesia); “Rútilo Nada” (ficção); A Obscena Senhora D (ficção)

Hilda Hilst – Entrevista 2002 – Inspiração, Campinas, Kadosh, Santa, Marlon Brando, Mulas e Lhamas

Pelé em 1960, ainda nos primeiros anos de sua carreira como jogador da seleção brasileira. GETTY
Hilda Hilst em seu escritório da Casa do Sol, Campinas-SP, Brasil. Outubro de 1998. Fotografia de Yuri Vieira.

Biografia

Hilda de Almeida Prado Hilst foi a única filha do fazendeiro de café, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst, filho de Eduardo Hilst, imigrante originário da Alsácia-Lorena, e de Maria do Carmo Ferraz de Almeida Prado. Sua mãe, Bedecilda Vaz Cardoso, que tivera um relacionamento anterior, era filha de imigrantes portugueses. Em 1932, seus pais se separaram. Em plena Revolução Constitucionalista, Bedecilda mudou-se de Jaú para Santos, com Hilda e Ruy Vaz Cardoso, filho do seu primeiro casamento. Em 1935, Apolônio foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide.

Em 1937, Hilda ingressou como aluna interna do Colégio Santa Marcelina, em São Paulo, onde cursou o primário e o ginasial, com desempenho considerado brilhante. Nesse ano, a mãe lhe revelou a doença de seu pai. Em 1945, iniciou o curso secundário no Instituto Presbiteriano Mackenzie, onde permaneceu até a conclusão do curso. Em 1948, entrou para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo São Francisco), onde conheceu aquela que seria sua grande amiga ao longo da vida, a escritora Lygia Fagundes Telles. Seu primeiro livro Presságio, publicado em 1950, foi recebido com grande entusiasmo pelos poetas Jorge de Lima e Cecília Meireles. A partir de 1951, ano em que publicou seu segundo livro de poesia, Balada de Alzira, foi nomeada curadora do pai. Concluiu o curso de Direito em 1952. Depois da leitura do livro Carta a El Greco, do escritor grego Nikos Kazantzakis, Hilda decide afastar-se da vida agitada de São Paulo e, em 1964, passa a viver na sede da fazenda de sua mãe, próximo a Campinas, durante a construção da sua casa numa parte daquela propriedade. Em 1966, findos os trabalhos da construção, Hilda muda-se para sua Casa do Sol, casa planejada detalhadamente pela autora para ser um espaço de inspiração e criação artística. Hilda Hilst viveu o resto de sua vida na Casa do Sol e nela hospedou diversos escritores e artistas por vários anos. Os escritores Bruno Tolentino e Caio Fernando Abreu foram hóspedes da Casa do Sol.

HILDA HILST: A mulher que deu uma banana para os editores

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Massao Ohno e Hilda Hilst.

Hilda Hilst escreveu por quase cinquenta anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios literários do Brasil. Em 1962, recebeu o Prêmio PEN Clube de São Paulo, por Sete Cantos do Poeta para o Anjo (Massao Ohno Editor, 1962). Em 1966, ao mudar-se para a Casa do Sol, passou a viver com o escultor Dante Casarini. Em setembro do mesmo ano, morreu seu pai. Dois anos depois, Hilda casou-se com Casarini (de quem se separa em 1980, embora continuassem a residir na mesma propriedade – Casa do Sol). Em 1969, a peça O Verdugo arrebatou o Prêmio Anchieta, um dos mais importantes do país na época. No mesmo ano, a cantata Pequenos Funerais Cantantes, composta por seu primo, o compositor Almeida Prado, sobre o poema homônimo de Hilda, dedicado ao poeta português Carlos Maria Araújo, conquistou o primeiro prêmio do I Festival de Música da Guanabara.

A Associação Paulista de Críticos de Arte (Prêmio APCA) considerou Ficções (Edições Quíron, 1977) o melhor livro do ano. Em 1981, Hilda Hilst recebeu o Grande Prêmio da Crítica para o Conjunto da Obra, pela mesma Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 1984, a Câmara Brasileira do Livro concedeu o Prêmio Jabuti, idealizado por Edgard Cavalheiro (1959) a Cantares de Perda e Predileção (Massao Ohno – M. Lydia Pires e Albuquerque editores, 1983), e, no ano seguinte, a mesma obra recebeu o Prêmio Cassiano Ricardo (Clube de Poesia de São Paulo). “Rútilo Nada”, publicado em 1993, pela Pontes Editores, levou o Prêmio Jabuti como melhor conto em 1994. E, finalmente, em 9 de agosto de 2002, foi premiada na 47ª edição do Prêmio Moinho Santista na categoria Poesia.

Quem foi HILDA HILST I 50 FATOS

Hilda Hilst e Daniel Fuentes na Casa do Sol imagoi
Hilda Hilst e Daniel Fuentes na Casa do Sol

 

A escritora ainda participou, a partir de 1982, do Programa do Artista Residente, da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

Assuntos tidos como socialmente controversos foram temas abordados pela autora em suas obras. No entanto, conforme a própria escritora confessou em sua entrevista ao Cadernos de Literatura Brasileira, seu trabalho sempre buscou, essencialmente, retratar a difícil relação entre Deus e o homem.

Parte de seu arquivo pessoal foi comprado pelo Centro de Documentação Alexandre Eulálio, Instituto de Estudos de linguagem – IEL, UNICAMP, em 1995, estando aberto a pesquisadores do mundo inteiro e o restante, notadamente sua biblioteca particular, encontra-se na Casa do Sol, sede do Instituto Hilda Hilst – IHH.

Alguns de seus textos foram traduzidos para o francês, inglês, italiano e alemão. Em março de 1997, seus textos Com os meus olhos de cão e A obscena senhora D foram publicados pela Editora Gallimard, tradução de Maryvonne Lapouge, que também traduziu Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa.

Muitos de seus livros se esgotaram devido a uma escassa distribuição. Porém, em 2001, a Editora Globo adquiriu os direitos de sua obra e, em dezembro daquele mesmo ano, passou a reeditar a Obra Completa da escritora.

Hilda Humana Hilst (documentário – 2002)

Da esquerda para a direita Olga Bilenky, Hilda Hilst e Daniel Fuentes. Ano 1990. imagoi
Da esquerda para a direita Olga Bilenky, Hilda Hilst e Daniel Fuentes. Ano 1990.

A escritora Hilda Hilst morreu na madrugada do dia 04 de fevereiro de 2004, aos 73 anos, em Campinas (interior de São Paulo). Internada havia 35 dias no Hospital das Clínicas da Unicamp para a realização de uma cirurgia, após sofrer uma queda que causou uma fratura no fêmur, a escritora tinha deficiência crônica cardíaca e pulmonar, o que agravou seu quadro clínico. Hilda Hilst deu entrada no Hospital das Clínicas no dia primeiro de janeiro. A escritora teve falência múltipla de órgãos e sistemas.

Após seu falecimento, o amigo Mora Fuentes liderou a criação do Instituto Hilda Hilst. O IHH tem como primeira missão a manutenção da Casa do Sol, seu acervo e o espírito de ser um porto seguro para a criação intelectual.

Hilda Hilst: quatro poemas na voz da autora

Fotos e gravuras raras de Hilda Hilst fazem parte da exposição no MIS imagoi
Fotos e gravuras raras de Hilda Hilst fazem parte da exposição no MIS

Obras

Poesia

  • Presságio – SP: Revista dos Tribunais, 1950.
  • Balada de Alzira – SP: Edições Alarico, 1951.
  • Balada do festival – RJ: Jornal de Letras, 1955.
  • Roteiro do Silêncio – SP: Anhambi, 1959.
  • Trovas de muito amor para um amado senhor – SP: Anhambi, 1959. SP: Massao Ohno, 1961.
  • Ode Fragmentária – SP: Anhambi, 1961.
  • Sete cantos do poeta para o anjo – SP: Massao Ohno, 1962. (Prêmio PEN Clube de São Paulo)
  • Poesia (1959/1967) – SP: Editora Sal, 1967.
  • Amado Hilst- SP: Editora Sal, 1969.
  • Júbilo, memória, noviciado da paixão – SP: Massao Ohno, 1974.
  • Poesia (1959/1979) – SP: Quíron/INL, 1980.
  • Da Morte. Odes mínimas – SP: Massao Ohno, Roswitha Kempf, 1980.
  • Da Morte. Odes mínimas – SP: Nankin/Montréal: Noroît, 1998. (Edição bilíngüe, francês-português.)
  • Cantares de perda e predileção – SP: Massao Ohno/Lídia Pires e Albuquerque Editores, 1980. (Prêmio Jabuti/Câmara Brasileira do Livro. Prêmio Cassiano Ricardo/Clube de Poesia de São Paulo.)
  • Poemas malditos, gozosos e devotos – SP: Massao Ohno/Ismael Guarnelli Editores, 1984.
  • Sobre a tua grande face – SP: Massao Ohno, 1986.
  • Alcoólicas – SP: Maison de vins, 1990.
  • Amavisse – SP: Massao Ohno, 1989.
  • Bufólicas – SP: Massao Ohno, 1992.
  • Do Desejo – Campinas, Pontes Editores, 1992. Del desig. Trad. ao catalão de Josep Domènech Ponsatí e Joana Castells Savall. Prólogo de Helena González Fernández. Vilanova i la Geltrú: Prometeu, 2017.
  • Cantares do Sem Nome e de Partidas – SP: Massao Ohno, 1995.
  • Do Amor – SP: Massao Ohno, 1999.

Ficção

  • Fluxo-Floema – SP: Perspectiva, 1970.
  • Qadós – SP: Edart, 1973.
  • Ficções – SP: Quíron, 1977. (Prêmio APCA/ Associação Paulista dos Críticos de Arte. Melhor livro do ano.)
  • Tu não te moves de ti – SP: Cultura, 1980.
  • A obscena senhora D – SP: Massao Ohno, 1982.
  • Com meus olhos de cão e outras novelas – SP: Brasiliense, 1986.
  • O Caderno Rosa de Lori Lamby – SP: Massao Ohno, 1990.
  • Contos D’Escárnio / Textos Grotescos – SP: Siciliano, 1990.
  • Cartas de um sedutor – SP: Paulicéia, 1991.
  • “Rútilo Nada” – Campinas: Pontes Editores, 1993. (Prêmio Jabuti/Câmara Brasileira do Livro.)
  • Estar Sendo/ Ter Sido – SP: Nankin, 1997.
  • Cascos e Carícias – crônicas reunidas (1992-1995) – SP: Nankin, 1998.

Teatro

  • A Possessa – 1967.
  • O rato no muro – 1967.
  • O visitante – 1968.
  • Auto da Barca de Camiri – 1968.
  • O novo sistema – 1968.
  • Aves da Noite – 1968.
  • O verdugo – 1969 (Prêmio Anchieta)
  • A morte de patriarca – 1969

Traduções

  • Para o alemão:
  • Briefe Eines Verführers. Trad. Mechthild Blumberg. Bremen, 2000.
  • Para o francês:
  • « Agda » (fragment). In: Brasileiras: voix, écrits du Brésil. Org. de Clelia Pisa e Maryvonne Lapouge Petorelli. Paris, Des Femmes, 1977, p. 5-14e 341-358.
  • Contes Sarcastiques – Fragments érotiques. Trad. de Maryvonne Lapouge-Petorelli. Paris, Gallimard, 1994.
  • L’obscène madame D suivi de Le Chien. Trad. de Maryvonne Lapouge-Petorelli. Paris, Gallimard, Coll. Arpenteur, 1997.
  • Sur ta grande face. Trad. de Michel Riaudel. In: Pleine Marge: cahiers de littérature, d’arts plastiques & de critique. Paris, Éditions Peeters-France, 1997, p. 29-51.
    Cinq poèmes d’Hilda Hilst. In: Anthologie de la poésie brésilienne. Edição bilíngue. Prefácio e seleção de Renata Pallottini; Trad. de Isabel Meyrelles. Paris, Ed.
  • Chandeigne, 1998, p. 373-381.
  • Da morte. Odes mínimas. De la mort. Odes minimes. Edição bilíngue. Trad. de Álvaro Faleiros. São Paulo, Nankin Editorial; Montréal: Ed. Noroît, 1998.
  • Contes Sarcastiques – Fragments érotiques. Trad. de Maryvonne Lapouge-Petorelli. Paris, Le Serpent à Plumes, 1999.
  • De l’amour précédé de Poèmes maudits, jouissifs et dévots. Trad. Catherine Dumas. Paris, Caractères, Coll. Planètes, 2005.
  • Rutilant Néant – Et autres fictions. Trad. Ilda Mendes Dos Santos. Paris, Caractères, Coll. Ailleurs-là-bas, 2005.
  • L’âme de retour (crônica). Trad. Michel Riaudel. in EUROPE – Littérature du Brésil. Paris, La Source, Nov-Déc. 2005. n 919-920. pp. 167–170.
  • Para o catalão:
  • Del desig. Tradução de Josep Domènech Ponsatí e Ada Castells Savall. Prólogo de Helena González. Vilanova i la Geltrú: Prometeu, 2017. Edição bilingue.
  • Para o espanhol:
  • La obscena señora D. Tradução de Teresa Arijón e Bárbara Belloc. Buenos Aires: Cuenco de Plata, 2014.
  • Cartas de un seductor. Tradução de Teresa Arijón e Bárbara Belloc. Buenos Aires: Cuenco de Plata, 2014.
  • Para o inglês:
  • The Obscene Madame D.” Trans. Nathanaël and Rachel Gontijo Araujo. Nightboat, NY, and A Bolha, Rio de Janeiro. USA. 2012
  • Letters from a Seducer. Trans. John Keene. Nightboat, NY, and A Bolha, Rio de Janeiro. USA. 2014
  • With My Dog Eyes. Trans. Adam Morris. Melville House, NY. 2014.
  • Of Death. Minimal odes. Trans. Laura Cesarco Eglin. Illinois, USA, co.impress.com, 2018.
  • Para o italiano:
  • Il quaderno rosa di Lori Lamby. Trad. Adelina Aletti. Milano: Sonzogno, 1992.

Premiações

Prêmio PEN Clube de São Paulo

  • 1962: Por Sete Cantos do Poeta, Para o Anjo (Massao Ohno Editor, 1962)

Prêmio Anchieta

  • 1969: Pela peça O Verdugo

Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de Melhor Livro do Ano

  • 1977: Ficções (Edições Quíron, 1977) de Hilda Hilst

Grande Prêmio da Crítica pelo Conjunto da Obra – Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA)

  • 1981: Hilda Hilst

Prêmio Jabuti

  • 1984: Hilda Hilst, por Cantares de Perda e Predileção (Massao Ohno – M. Lídia Pires e Albuquerque editores, 1983)

Prêmio Cassiano Ricardo

  • 1985: Hilda Hilst, por Cantares de Perda e Predileção (Massao Ohno – M. Lídia Pires e Albuquerque editores, 1983)

Prêmio Jabuti – Melhor Conto

  • 1994: Hilda Hilst, por “Rútilo Nada” (em A Obscena Senhora D. Quadós, Pontes Editores, 1993)

Ordem do Mérito Cultural

  • 1997: Hilda Hilst, entre outros

Prêmio Moinho Santista

  • 2002: Hilda Hilst na categoria Poesia

Curiosidades

  • Em 1957 namorou o ator americano Dean Martin

Ver Também

  • Ode descontínua e remota para flauta e oboé – De Ariana para Dionísio

 

Exposição no MIS paulista celebra os 90 anos de Hilda Hilst imagoi
Exposição no MIS paulista celebra os 90 anos de Hilda Hilst
Fragmento de entrevista à revista ELLE (aproximadamente 1994)
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A famosa "banana" de Hilda Hilst ao mercado editorial brasileiro.
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A Casa do Sol, lugar onde escritora viveu em Campinas (SP), é sede do Instituto Hilda Hilst, no qual ocorrem encontros e residências artísticas.
A Casa do Sol, lugar onde escritora viveu em Campinas (SP), é sede do Instituto Hilda Hilst, no qual ocorrem encontros e residências artísticas.
Além de ações como manutenção de acervo e construção de teatro, o Instituto Hilda Hilst desenvolveu uma linha de produtos com referência à autora. Foto: Divulgação
Além de ações como manutenção de acervo e construção de teatro, o Instituto Hilda Hilst desenvolveu uma linha de produtos com referência à autora. Foto: Divulgação

 

Fontes: Wikipédia, IMDB, além da pesquisa no site Imagoi.